MUNDO – Uma manifestação de aposentados na Argentina, apoiada por torcidas de futebol e organizações sociais, terminou em violentos confrontos com a polícia nesta quarta-feira (12/03), resultando na prisão de ao menos 103 pessoas e deixando 20 feridos, um deles em estado grave. O protesto, o mais violento desde que o presidente ultraliberal Javier Milei assumiu o governo em dezembro de 2023, ocorreu em frente ao Congresso e à Praça de Maio, em Buenos Aires, e foi reprimido com gás lacrimogêneo, balas de borracha e canhões de água.
Os aposentados exigem a atualização do valor das aposentadorias, o restabelecimento da cobertura dos custos com medicamentos e a continuação da moratória previdenciária, que permite que pessoas se aposentem sem ter cumprido os 30 anos de contribuição e está prevista para terminar no final de março. Nos últimos meses, os protestos dos idosos têm sido reprimidos com violência pela polícia, gerando revolta e indignação.
Confrontos e repressão policial
O protesto desta quarta-feira ganhou força com a adesão de torcidas organizadas de cerca de 30 times de futebol, que se juntaram aos aposentados e a organizações sociais e sindicais. Os confrontos começaram quando os manifestantes tentaram romper os cordões policiais que bloqueavam o acesso ao Congresso e à Praça de Maio. A polícia respondeu com gás lacrimogêneo, balas de borracha e canhões de água, enquanto os manifestantes revidavam com pedras, fogos de artifício e bombas de efeito moral.
Durante os confrontos, uma viatura policial e uma motocicleta foram incendiadas, e outros sete veículos da Secretaria de Segurança de Buenos Aires foram vandalizados. Um fotojornalista foi ferido por um projétil enquanto cobria os protestos. Entre os 20 feridos, 10 são policiais com lesões leves, e os demais são civis, incluindo um homem em estado grave, que sofreu uma fratura no crânio após ser atingido por uma cápsula de gás lacrimogêneo.
Contexto político e econômico
Os protestos ocorrem em um contexto de crescente insatisfação com as políticas econômicas do governo de Javier Milei, que, embora tenham reduzido a inflação de 211,4% em 2023 para 117,8% em 2024 e alcançado um superávit fiscal, resultaram em aumento da pobreza, perda de empregos e paralisação de obras públicas. A liberação dos preços promovida por Milei dobrou o custo de medicamentos e serviços essenciais em um ano, afetando diretamente os aposentados, muitos dos quais recebem a pensão mínima, equivalente a cerca de R$ 1.970.
Quase 60% dos aposentados argentinos dependem da pensão mínima, e o governo congelou um bônus de aproximadamente R$ 406 no ano passado, agravando ainda mais a situação financeira dos idosos. A moratória previdenciária, que beneficia milhares de pessoas, está prestes a acabar, o que pode deixar muitos sem acesso à aposentadoria.
Repercussão e panelaços
Após os confrontos, ocorreram panelaços em várias partes de Buenos Aires, e centenas de manifestantes marcharam novamente até a sede do governo, demonstrando a insatisfação popular com as políticas de Milei. A repressão violenta aos protestos de aposentados e a adesão de torcidas organizadas aos atos mostram o crescente descontentamento da população com o governo, que enfrenta desafios para manter o apoio popular enquanto implementa medidas de austeridade.
A situação na Argentina segue tensa, com a população pressionando por mudanças que garantam direitos básicos e melhorem a qualidade de vida, especialmente para os mais vulneráveis, como os idosos. O governo de Milei, por sua vez, defende suas políticas como necessárias para estabilizar a economia, mas enfrenta resistência cada vez maior de setores organizados da sociedade.