BRASIL – Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) avaliam que a possível indicação do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) para a presidência da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados pode gerar uma “crise anunciada”. A informação, repassada à jornalista Andréia Sadi, revela a preocupação de magistrados com o uso do cargo para a “radicalização” de discursos e o tensionamento de relações internacionais em um período pré-eleitoral, com foco na disputa presidencial de 2026.
A indicação de Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), é vista como uma estratégia para ampliar narrativas de perseguição política e mobilizar apoiadores. A preocupação dos ministros do STF aumenta diante do avanço do processo que analisa a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o ex-presidente por tentativa de golpe de Estado. Para os magistrados, Eduardo pode utilizar a comissão para escalar conflitos e reforçar a ideia de que a família Bolsonaro está sendo injustiçada.
Atualmente, Eduardo Bolsonaro já responde a uma notícia-crime no STF por supostos crimes contra a soberania nacional, acusado de articular reações contra o tribunal no exterior. Caso ele utilize a Comissão de Relações Exteriores para fazer declarações polêmicas no exterior, poderá agravar sua situação jurídica, inclusive com a possibilidade de apreensão de seu passaporte.
PL deve oficializar indicação nesta semana
O Partido Liberal (PL), que possui a maior bancada da Câmara, tem direito às duas primeiras escolhas para a presidência de comissões. Eduardo Bolsonaro é o principal nome cotado para a Comissão de Relações Exteriores, e a indicação deve ser oficializada até quinta-feira (13). A situação é comparada por ministros do STF à nomeação de Anderson Torres para a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal em 2023, que resultou em críticas após Torres ser acusado de omissão durante os ataques golpistas de 8 de janeiro.
Processo no STF avança
Enquanto isso, o STF segue analisando a denúncia da PGR contra Jair Bolsonaro e aliados por tentativa de golpe de Estado. As defesas dos acusados tiveram até o fim de fevereiro para apresentar respostas, e o relator do caso deve liberar a matéria para análise do colegiado em breve. A primeira etapa do julgamento decidirá se a denúncia será aceita, o que pode levar à abertura de um processo penal com coleta de provas, depoimentos e interrogatórios. Caso a denúncia seja rejeitada, o caso será arquivado.
A eventual abertura do processo pode aumentar as tensões no Congresso e no cenário político, especialmente com a aproximação das eleições de 2026. A nomeação de Eduardo Bolsonaro para a Comissão de Relações Exteriores, somada ao avanço do caso no STF, pode intensificar os embates entre o Judiciário, o Legislativo e os apoiadores do bolsonarismo, em um momento de alta polarização no país.
Cenário de tensão
A indicação de Eduardo Bolsonaro para um cargo de destaque na Câmara é vista como uma tentativa de fortalecer a base política da família Bolsonaro, mas também pode gerar atritos com o STF e impactar as relações internacionais do Brasil. Para os ministros do Supremo, a situação é mais um capítulo de uma estratégia de defesa que busca criar um ambiente de vitimização entre os apoiadores do ex-presidente, minimizando as acusações de tentativa de golpe.
O desfecho desse embate político-jurídico pode definir os rumos da política brasileira nos próximos anos, com reflexos diretos na corrida eleitoral de 2026.